Capítulo 2 - Convocação Intergaláctica

O complexo monumental de arranha-céus cintilantes em volta do prédio principal, em forma de pirâmide, vibrava com a atividade frenética de naves vindas de cantos distantes do Universo, cada uma carregando delegações de inúmeros planetas para um evento de magnitude inédita.

O Universo, em sua majestosa indiferença, raramente se curva diante da vontade de seus habitantes. Mas naquele dia, nos confins da galáxia, entre o emaranhado de estrelas e planetas, algo notável estava prestes a acontecer, algo que desafiava a própria essência do cosmos. Nether, já imerso na vastidão daquele conglomerado de prédios altos e brilhantes, encontrava-se no epicentro de um evento que prometia ser gravado nas crônicas das eras vindouras.

Enquanto naves de todos os tamanhos e formas ziguezagueavam num balé caótico, anunciando delegações de milhares de mundos distantes, a atmosfera vibrava com uma tensão palpável, carregada de expectativa e promessas não ditas. Para muitos, a magnitude do que estava por vir era quase incompreensível, reservada apenas àqueles poucos seres de entendimento elevado, capazes de vislumbrar os desígnios ocultos do destino.

Nether, no entanto, encontrava-se em um limbo emocional peculiar. Chegando antes do tempo marcado, ele havia tomado seu lugar, sentindo o frio desconforto da cadeira metálica, símbolo de uma responsabilidade que ele ainda estava tentando dimensionar completamente. Era estranho, refletiu, como momentos de profunda introspecção podiam ocorrer nos lugares mais improváveis.

Insights, esses flashes de compreensão súbita, eram comuns à sua espécie, seres altamente adaptados aos caprichos e sussurros da Consciência Cósmica. Mas o insight que visitou Nether naquele instante era de uma natureza diferente, carregado de uma profundidade e intensidade que ele jamais havia experimentado. Não era a ansiedade — um estado estranho e desconhecido para sua constituição extraterrestre — mas uma curiosidade aguçada sobre o que realmente estava por vir.

Assumindo recentemente o comando de uma das prestigiosas naves-mãe do Comitê, Nether sentia em seus ossos que a missão que se avizinhava poderia muito bem recair sobre seus ombros. Sua alma, alinhada com os mais altos ideais do cosmos e um seguidor devoto de suas Leis Universais, encontrava-se agora num mar de dúvidas, questionando não apenas o futuro iminente, mas a própria teia de destinos que o havia trazido até ali.

E então, algo extraordinário aconteceu. Uma onda de sensações, primitivas e desconhecidas, inundou seu ser, deixando-o atordoado com sua própria intensidade. Nether estava acostumado a dançar ao som do Universo, a se mover conforme as marés da existência sussurravam em seu íntimo. Mas isso… isso era uma melodia diferente, uma frequência vibrando com a mais pura essência do Amor, prometendo uma jornada além da imaginação, uma aventura que o transformaria de maneiras que ele não ousava conceber.

Contudo, ao invés de mergulhar de cabeça nesse novo destino, Nether hesitou. Uma parte dele desejava se agarrar ao familiar, às certezas e responsabilidades de seu posto. Era uma sensação nova para ele, essa relutância em avançar, em se deixar levar pela correnteza desconhecida que o amor prometia.

Por que essa hesitação? Nether perguntou-se, perplexo com sua própria reticência. Será que o peso de suas responsabilidades havia finalmente se tornado uma âncora, prendendo-o ao chão enquanto asas invisíveis tentavam lhe elevar para além das estrelas?

Nas horas que se seguiram, enquanto a assembleia se desenrolava em um torvelinho de discursos e deliberações, Nether permaneceu perdido em seus pensamentos, um náufrago em um mar de emoções conflitantes. Era como se, pela primeira vez, ele estivesse verdadeiramente no limiar de algo grandioso, uma encruzilhada entre o passado e um futuro repleto de possibilidades infinitas.

O que o Universo estava tentando lhe dizer? E, mais importante, ele estaria pronto para ouvir?

Essas questões ecoavam na mente de Nether, misturando-se ao burburinho das conversas ao seu redor, ao zumbido suave das máquinas e ao distante soar das naves decolando e aterrissando. A cada momento que passava, a realidade de sua posição e a magnitude do que estava por acontecer tornavam-se mais tangíveis, mais reais.

A revelação inesperada de uma jornada guiada pelo amor, uma aventura que prometia transformar sua essência, confrontava-o com um paradoxo. Como poderia ele, um ser dedicado ao equilíbrio cósmico e à ordem do Universo, embarcar numa viagem tão incerta, tão repleta de variáveis desconhecidas?

À medida que a assembleia avançava, uma clareza gradual começou a se formar dentro de Nether. Talvez, refletiu ele, a verdadeira força não residisse na adesão inflexível ao conhecido, mas na coragem de se aventurar além, de explorar os cantos não mapeados do coração e da alma.

E então, no meio daquela imensidão, entre as vozes de milhares de seres e o brilho suave dos holofotes, Nether sentiu uma mudança sutil dentro de si. Era como se, em meio à hesitação e ao medo, uma pequena semente de coragem começasse a brotar, incentivando-o a aceitar não apenas o chamado para uma nova jornada, mas também a si mesmo, em toda a sua complexidade e potencial para o amor.

Com essa realização, a hesitação de Nether começou a desvanecer. A ideia de recuar, de se esquivar do desconhecido, parecia agora menor, menos significativa. Em seu lugar, crescia uma nova determinação, uma vontade de abraçar as promessas do amor, independentemente de onde elas o levassem.

Ao final da assembleia e confirmação dos temores de Nether, enquanto os participantes começavam a dispersar, retornando às suas naves e aos seus mundos distantes, Nether permaneceu sentado por um momento, contemplando o vazio que agora enchia o espaço. Sua decisão estava tomada. Ele embarcaria nessa nova aventura, não como um comandante obedecendo ordens de uma consciência superior, mas como um explorador do coração, guiado pela mais pura das vibrações: o amor.

Levantando-se, Nether dirigiu-se à saída, sua figura imponente movendo-se com um propósito renovado. As estrelas lá fora não eram mais meros pontos de luz em um céu escuro; eram faróis, guiando-o para o desconhecido. E embora o futuro permanecesse incerto, uma coisa era clara: ele jamais seria o mesmo depois disso. Não porque o Universo exigia, mas porque ele próprio desejava. Em sua alma, uma aventura extraordinária o aguardava, pronta para ser vivida em toda a sua plenitude.

E assim, Nether partiu, não para cumprir um destino imposto, mas para forjar o seu próprio, num Universo que, de repente, parecia estar repleto de infinitas possibilidades.