À medida que as estrelas se alinhavam no manto noturno de um Universo sem limites, uma decisão de gravidade cósmica recaía sobre um planeta azul, longiquamente distante e esquecido, localizado na periferia da Via Láctea. O Caibalis, um Comitê Intergaláctico de sabedoria e poder incomensuráveis, convocara sua reunião milenar, cujo tema central pulsava com a urgência de um sinal de alerta: o destino da Terra e de seus 8 bilhões de habitantes estava pendurado na balança.
Em meio a esse cenário, Nether, cuja fama como piloto já cruzara os confins de galáxias conhecidas e desconhecidas, se encontrava na iminência de uma missão que testaria não apenas suas habilidades, mas sua própria essência. A Terra, um planeta vibrante, com exuberante vida, mas tragicamente marcado pela corrupção do egoísmo, guerras incessantes, e uma sede insaciável por poder, estava sob a lente de julgamento do Caibalis. Este Comitê, responsável pelo Grupo Local, um aglomerado de mais de 54 galáxias próximas, que têm o seu centro gravitacional entre a Via Láctea e a Galáxia de Andrômeda, detinha a Missão Divina de Criar, Coordenar, Controlar e Monitorar a vida, em todos os planetas da imensa área, um fardo que lhes conferia um poder quase onipotente, mas também uma responsabilidade esmagadora.
A Terra, com seus mares azuis, florestas que dançam com o vento, e montanhas que tocam os céus, era Gaya, um ser vivo no Todo Cósmico, agora sufocando sob o peso de suas próprias criações. O egoísmo desenfreado, o descaso com a natureza, o materialismo cego, a falta de amor ao próximo e as disputas pelo controle e poder haviam desencadeado uma série de eventos que ameaçavam despedaçar o tecido da vida no planeta.
O recém-nomeado Presidente do Caibalis, o deus Anunnaki Enlil, via-se diante de uma tarefa árdua e quase prazerosa para ele. Sua primeira grande medida, um edital que reverberaria através das eras, era a possível extinção dos seres humanos, uma decisão draconiana destinada a preservar o equilíbrio vital de Gaya. Nether, como imaginara, foi escolhido, sob o manto dessa resolução sombria, para liderar a Nave Mãe em uma expedição de reconhecimento, a vanguarda de uma intervenção que poderia culminar na dizimação da espécie humana.
A expedição teria como alvo as grandes cidades da Terra, os núcleos pulsantes de atividade humana que também se tornaram os epicentros de sua auto-destruição. Com tecnologia tão avançada que passaria despercebida pelos obsoletos esforços defensivos terrestres, a equipe de Nether deveria coletar dados que confirmassem os temores do Caibalis e seria prolongada até o fim da Transição Planetária que o planeta Gaya estava passando, entre a Era de Peixes e a nova Era de Aquários. Porém, havia algo mais pesando no coração de Nether, uma inquietude que ia além da missão: a consciência da existência de inúmeros inocentes entre os condenados, vidas que talvez merecessem uma chance de redenção.
Nether, acostumado às incertezas do espaço, encontrava-se agora navegando em mares ainda mais turbulentos de moralidade e dever. Como poderia, em boa consciência, liderar uma missão que poderia muito bem ser um prelúdio para o extermínio, especialmente quando cada fibra de seu ser gritava que, entre os bilhões, havia aqueles que brilhavam com a luz da esperança, da bondade, e da possibilidade de mudança?
Em sua cabine, observando as estrelas que ele conhecia tão bem, Nether contemplava o Universo distante, sua beleza e tragédia entrelaçadas em um complexo mosaico de vida. Era um jogo de xadrez cósmico, e ele, uma peça-chave movida pelo destino e pela vontade dos deuses. Mas talvez, apenas talvez, houvesse espaço para um movimento inesperado, um gesto de desafio contra o inevitável.
A missão era clara, mas o caminho a seguir estava repleto de sombras. Nether imaginava que o verdadeiro teste não seria no espaço, entre as estrelas, mas aqui, no íntimo de sua alma, onde o dever e a moralidade colidem. A decisão do Caibalis, embora tomada sob a égide da preservação Universal, pesava sobre ele como uma âncora, puxando-o para as profundezas de um mar turbulento de dúvidas. Como poderia, um piloto cuja vida foi dedicada à exploração e ao entendimento, tornar-se o arauto da destruição?
E então, no silêncio que preenchia os espaços entre os mundos, Nether fez uma escolha. Não seria a mão cega da fatalidade, mas sim um farol de esperança. Sua missão de reconhecimento teria um novo propósito, não apenas para validar as suspeitas do Caibalis, mas talvez para encontrar aquelas faíscas de luz, aqueles momentos e pessoas que demonstravam que a Terra, apesar de suas muitas falhas, ainda tinha algo pelo qual valia a pena lutar, era o que ele realmente sentia.
Com a equipe escolhida a dedo, seres de várias galáxias com habilidades únicas e corações igualmente inquietos, Nether partiu. Sua nave, a Nave Mãe, agora carregava uma carga muito diferente daquela prevista pelos deuses e pelos anciãos do Caibalis. Eles chegariam à terra através de um buraco de minhoca, termo popular para um portal intergaláctico, não como conquistadores ou juízes, mas como observadores, buscadores da verdade em meio ao caos.